sábado, 23 de outubro de 2010

MS não é só Guarania e sertanejo

Dessas coisas malucas que acontecem. Estava em Campo Grande para um show com os Titãs no belíssimo parque das Nações Indígenas, num festival de bandas locais. Aliás, ótimas bandas.

Quem pensa que no Mato Grosso do Sul só se ouve guarânia, música sertaneja ou música pantaneira, engana-se. Há muita eletricidade, cosmopolitismo e criatividade no trabalho dos grupos sul matogrossenses. Jennifer Magnética e Curimba são apenas dois exemplos do que falo. Se liguem.

No lado de fora do camarim, pouco antes do show, recebíamos alguns convidados. Um sujeito barbado, com pinta de roqueiro do Arkansas, me chamou de lado:

“Meu pai é escritor, leitor dos seus livros. Ele gostaria que você lesse o último livro dele, uma história policial em que o protagonista é um guitarrista de rock de São Paulo. O livro chama-se Vila Madalena”. Tóin! Alguma coisa vibrou nas conexões elétricas do meu cérebro. “Guitarrista, é? Coincidência. Meu último livro também tem um guitarrista de rock de São Paulo como protagonista”. “Eu também sou guitarrista”, acrescentou o roqueiro, “Fábio, prazer”.

Nos cumprimentamos. Fábio me deu em seguida um envelope com o livro de seu pai, na verdade um manuscrito impresso direto do computador, já que Vila Madalena ainda não foi publicado. No envelope, junto com o livro, um CD da banda O Bando do Velho Jack, da qual Fábio faz parte. Eu agradeci e, antes de entrar no camarim, comentei:

“Que interessante. Muito raro um livro em que o protagonista é um guitarrista de rock. Pensei que o meu fosse o único”.

Fábio sorriu: “A história é muito boa. Téo, o guitarrista, vai atrás de…”. “Como? Qual o nome do guitarrista?”. “Teo”, responde Fábio, um pouco intrigado com a minha abrupta interrupção de sua explanação. Tóin óin óin! Agora uma miríade de neurônios explosivos causou tempestades elétricas dentro do meu crânio. Deixei que Fábio terminasse de falar. Mas já não registrava suas palavras.

Não é que o nome (Teo, “alma, espírito, deus” em grego) do guitarrista protagonista do livro do pai do Fábio, o escritor Joaquim Terra, é o mesmo do guitarrista protagonista do meu No Buraco? E não se pode acusá-lo de plágio, já que meu livro só foi lançado agora e o Joaquim Terra não teria tempo de escrever um romance inteiro em uma semana! Nem o Jack Kerouac escreveria tão rápido… É, como dizia Carl Jung, as coincidências significativas têm uma razão de ser. A isso ele chamava de sincronicidade. Os únicos guitarristas conhecidos protagonistas de romances brasileiros são xarás. Coincidência do cacete, não?

Livro….

…. Sincronicidade, obra de Jung, assim como Sincronicity, o disco do The Police, são ótimas sugestões para quem quer mais que entender, curtir os mistérios e maravilhas deste vasto e alucinado mundo.





Fonte: Veja (Tony Bellotto)

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