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domingo, 15 de novembro de 2009
Edição de 20 anos do 1º álbum do Nirvana lança luz sobre o grunge
Luiz Felipe Reis
No encarte de Bleach, álbum de estreia do Nirvana, a grafia Kurdt Kobain divide espaço com Krist Novoselic, Chad Channing e... Jason Everman.
Jason quem? Sim, graças ao então guitarrista de apoio do Nirvana, parcos US$ 606,15 foram gastos para acertar as contas com o produtor Jack Endino, responsável pelas gravações do álbum que marcou a estreia da até então desconhecida banda de Seattle.
Gravado em três apressadas sessões no Reciprocal Studios, entre dezembro de 1988 e janeiro de 1989, o disco evidencia a crueza - dado os poucos recursos do estúdio e dos equipamentos da banda - e a urgência - marcada pelo caráter irascível e instável do líder - que impulsionaria, dois anos mais tarde, a explosão do movimento grunge por todo o país, a bordo do clássico Nevermind.
Editado em junho de 1989 pela Sub Pop, a bolacha que inicialmente vendera cerca de 40 mil cópias completa 20 anos. Para celebrar a data, o disco ganha as prateleiras numa edição de luxo em CD duplo, remasterizado a partir das fitas originais e acrescido com uma apresentação ao vivo da banda - ambos com a supervisão de Endino: "Eu sabia que tínhamos em mãos um bom disco, mas eu faço uma porção de bons discos todos os anos. Acho que todos deveriam ser escutados por muito mais gente, o que geralmente não acontece... com exceção de Bleach."
Escoltado pelos bateristas Dale Crover e Chad Channing, Cobain finalizava as letras pouco antes de Endino dar o comando de "gravando". O resultado é um álbum cru, pantanoso, com uma coleção de melodias arrastadas adornadas por guitarras distorcidas que fundiam a ferocidade do punk e das bandas de garagem ao ar lúgubre do metal setentista cunhado pelo Black Sabbath.
Da caneta do compositor, escorriam referências biográficas, tanto de seu traumático histórico familiar quanto de sua adolescência na conservadora e remota Aberdeen, como em School, Floyd the barber e Mr. Moustache.
O disco já continha os lancinantes urros que tornaram-se sua marca, como em Negative creep e Blew, além da veia pop para melodias açucaradas, como em About a girl. Apesar de lembrar detalhes da gravação, Endino confessa que seu relacionamento com Kurt foi tão rápido e focado quanto as gravações do seminal álbum.
Não nos conhecemos muito bem, apenas passamos alguns dias juntos. Não fui muito próximo dele, até porque ele não morava em Seattle (na época, o roqueiro vivia na cidade vizinha de Aberdeen) e não tínhamos muito contato social fora das sessões", contou.
O produtor prossegue: "Kurt era um cara fácil de se lidar. Ouvia a opinião das outras pessoas e era extremamente focado. Não consigo lembrar sequer de ter visto os caras bebendo cerveja durante o tempo em que passamos no estúdio. Não perdíamos tempo, só queríamos saber de gravar e tirar um bom som. Cobain nunca mostrou evidências de seus problemas."
Por "problemas", Endino se refere à instabilidade mental do líder da banda, que, somada ao vício em heroína, o levou ao suicídio em abril de 1994, pouco mais de cinco anos depois do lançamento do disco de estreia. Após o estouro de Nevermind, Bleach ganhou fôlego renovado e chegou a marca de 1,7 milhões de cópias vendidas apenas nos EUA. Fato que sedimentou e projetou a carreira de Jack Endino como produtor musical.
Até então, ele se dividia entre o trabalho no estúdio e o posto de guitarrista da banda Skin Yard: "Percebi que poderia viver disso quando o Skin Yard acabou, em 1992, na mesma época em que o grunge estava explodindo. Parecia que o mundo exigia que eu me tornasse um produtor, mais do que um guitarrista. Meu telefone não parava de tocar."
A segunda metade do pacote ilustra uma apresentação poderosa e, como sempre, caótica do grupo, com Cobain quebrando sua guitarra ao fim da apresentação. Extraída de um show no Pine Street Theatre, em Portland, em 9 de fevereiro de 1990, a gravação traz versões ao vivo para covers como Love buzz e Molly's lips, e foi remixada a partir das fitas originais: "O grunge era uma combinação do rock de garagem dos anos 60 com o hard rock dos 70 e com a atitude punk dos 80", definiu Endino, que foi além e com a autoridade de quem é tratado como o avô do grunge acrescentou: "Tínhamos uma filosofia muito forte do faça-você-mesmo, monte-a-sua-banda, grave-o-seu-próprio-disco. E, é claro, muitos gritos e uma série de guitarras estrondosas. Kurt fez lembrar a todos que a melodia é fundamental para uma boa composição e que é preciso cantar com paixão."
JB Online
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