quarta-feira, 8 de julho de 2009

Filme francês recupera vida de gângster dos anos 1960

Divulgação
Cena do filme
Diretor com apenas quatro filmes no currículo, só um deles exibido no Brasil - Assalto à 13a DP, de 2005 - o francês Jean-François Richet garantiu uma indiscutível ascensão profissional com Inimigo Público no. 1 - Instinto de Morte, que venceu três César, o principal prêmio cinematográfico da França: melhor diretor, som e ator (Vincent Cassel).


Conhecido do público brasileiro em filmes como Rios Vermelhos (2000) e Senhores do Crime (2007), Cassel se transfigura, com olhos e cabelos escurecidos e 20 kg a mais de peso para interpretar Jacques Mesrine (1936-1979), um dos gângsters mais célebres da França e que estendeu sua carreira criminosa também ao Canadá e à Venezuela.

Bandido perigoso, inteligente e temido, Mesrine cometeu assaltos à mão armada, a bancos, sequestros e mortes, além de fugas espetaculares de várias prisões.

Entre uma coisa e outra, encontrou tempo e disposição também para escrever uma autobiografia nos anos 60, que serve de ponto de partida ao roteiro assinado por Abdel Raouf Dafri.

Um roteiro, aliás, que foi desdobrado em dois filmes, este Inimigo Público no. 1 - Instinto de Morte e sua sequência, Inimigo Público no. 1 - Parte 2 (título provisório), visando dar conta das várias facetas de um personagem tão famoso quanto enigmático. Os dois filmes foram um sucesso de bilheteria na França, atraindo nove milhões de espectadores em 2008.

Inimigo Público no. 1 - Instinto de Morte acompanha o gradativo mergulho de Jacques Mesrine no crime. Nascido em Clichy, numa família de classe média, ele vai em 1956 servir na Guerra da Argélia. Participando como soldado de diversas brutalidades e de execuções de ativistas argelinos rebelados contra os colonizadores franceses, Mesrine experimenta seu primeiro contato com a violência.

De volta à casa três anos depois, condecorado, o rapaz parecia destinado a uma vida pacata, num emprego como comerciante de rendas arranjado por seu pai (Michel Duchaussoy, de Arthur e os Minimoys).

A amizade com Paul (Gilles Lellouche), um pequeno marginal, desvia Jacques dessa rota. Com o amigo, começa a praticar furtos e a tomar gosto pela adrenalina desta vida, por enquanto clandestina.

Numa viagem à Espanha, conhece Sofia (Elena Anaya, de Pecados Inocentes), jovem que desconhece seu lado obscuro e se apaixona por ele. Em 1961, os dois se casam e têm três filhos.

A vida bandida de Jacques termina conduzindo-o pela primeira vez à prisão. Na saída, mais uma vez, ele tenta sair do crime e encontra um trabalho regular. Não demora muito, o fascínio pela marginalidade, a influência de Paul e também do "capo" Guido (Gérard Depardieu) restituem Mesrine à vida criminosa, por mais que sua mulher tente demovê-lo. Ela mesma se torna alvo de sua violência e termina por abandoná-lo.

De façanha em façanha, Mesrine já era a essa altura um bandido famoso e caçado implacavelmente pela polícia. Associado a uma nova amante, Jeanne Schneider (Cécile de France, de "Um Lugar na Platéia"), pratica inúmeros assaltos e foge para o Canadá - onde sua carreira terá alguns de seus episódios mais espetaculares.

Empregados como copeira e motorista na casa de um milionário paraplégico, Jacques e Jeanne terminam por sequestrá-lo - uma ação fracassada que os levará à prisão.

Mesrine acaba na penitenciária Saint Vincent de Paul, em que vigora um sistema abusivo e implacável, que inclui torturas.

O lugar é supostamente à prova de fugas, mas será palco de mais uma incrível escapada de Mesrine em 1972 - que teve a ousadia de ali voltar, 15 dias depois, para libertar outros comparsas que ficaram para trás, uma ação que provocou várias mortes.

Com uma montagem ágil, de Hervé Schneid, o filme mantém a tensão e o foco na transformação de Mesrine num supercriminoso. Contando com um roteiro sólido e uma competente ambientação de época, "Inimigo Público no. 1 - Instinto de Morte" sai-se bem no desafio de não romantizar seu protagonista, evitando sucumbir ao sinistro carisma daquele que virou personagem midiático, tema de livros e canções na França nas últimas décadas.

Reuters

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