Marcos Bragatto, Jornal do Brasil
CURITIBA - Quando o vocalista do Fellini, Cadão Volpato, na fria madrugada de sábado para domingo, jogou para o público as letras das músicas que lia para cantar durante o show, sabia o que estava fazendo. Era um sinal de que o grupo realmente não faria mais shows. O quarteto, que há anos não toca com a formação original, decidiu se reunir para duas únicas apresentações para lembrar os 25 anos da criação da banda. A primeira foi em São Paulo, no meio da semana passada, e a derradeira, no sábado, como principal atração do Festival Rock de Inverno, que voltou a acontecer em Curitiba, depois de três anos de ausência no calendário da cidade. – Foi uma apresentação especial do Fellini, resolvemos comemorar porque somos amigos até hoje, coisa rara no mundo do rock – contou Volpato, nos bastidores do festival. – Era uma coisa pensada desde 2007, e coincidiu com o Rock de Inverno, que por ser um festival de bandas independentes, tem tudo a ver com a gente. Pouca idade, grande reação Se a primeira reunião dos quatro integrantes originais – além de Cadão, os guitarristas Thomas Pappon e Jair Marcos e o baixista Ricardo Salvagni – em muitos anos não gerou novas composições para um disco de inéditas, como é comum nesses reencontros, o grupo decidiu resgatar a própria história, em parte por conta da boa reação do público de pouca idade encontrado nesses shows. – Pensamos em fazer uma coletânea com as melhores coisas do Fellini, contando a história, contextualizando tudo, uma escolha nossa, de curador, com fotos decentes – adianta Volpato. – Começamos a pensar nisso agora. As pessoas de 25 anos que viram nosso show cobraram. Pesa na decisão o fato de o último álbum, Amanhã é tarde, lançado em 2002 pelo selo carioca midsummer madness, não ter recebido a repercussão esperada, e ainda porque Thomas mora já há tempos em Londres, onde gravou esse disco dentro de casa, com a visita de Cadão. – Não faz sentido fazer de novo nesse esquema, mesmo se um selo nos oferecer um contrato. A recepção desse disco não me deixou convencido de que as pessoas querem ouvir músicas novas do Fellini. Público de bandas antigas só quer os grandes sucessos, é muito difícil despertar interesse com material novo – lamenta Thomas Pappon, que aposta no interesse do mercado internacional em uma coletânea bem organizada. Talvez não pense assim Paulo H, vocalista da boa banda Mordida, que tocou logo após o Fellini e fez questão de agradecer aos serviços prestados pelo grupo. Só no sábado outras cinco bandas se apresentaram no charmoso John Bull Music Hall, na capital paranaense, que recebeu um público estimado em 700 pessoas. Antes, o instrumental Ruído/MM, com quatro guitarristas, se embaralhou todo como o sistema de som e fez um show abaixo do potencial que tem. Se a mistura de MPB, rock e música de quermesse promovida por Heitor & Banda Gentileza, que abriu a noite de sábado, remete mais diretamente ao Los Hermanos, não se pode negar que foi o Fellini que deu o pontapé inicial nesse sentido, e isso em meio ao boom do rock nacional dos anos 80. – O pessoal de Recife tramou o mangue beat ouvindo o disco do Fellini, isso é um fato – reivindica Pappon. Na noite de sexta, o festival recebeu um público menor, mas novidades também deram o ar da graça. Uma delas foi o Pão de Hambúrguer, que, num evento de estética tipicamente indie, saiu pela tangente com três guitarristas evocando o bom e velho classic rock, incluindo Lynyrd Skynyrd e até o mutante Arnaldo Baptista. O pop rock do agitado trio Nevilton, do interior do estado, foi outro que se salientou, com músicas de forte sotaque pop, mas que não perdem o peso inerente ao rock. E o carismático vocalista Oneide renasceu no Diedrich e Os Marlenes, tocando air guitar com o instrumento em punho, ao passo que o guitarrista Luiz Ferreira garantia o som de verdade no talo. O som do estranhamento Contemporâneo do Fellini, o também reunido 3 Hombres – que em comum tem o guitarrista Jair Marcos – mostrou ser uma janela de visita para o passado, apesar da boa presença do vocalista Daniel Benevides. A despeito da curta apresentação de sábado, para Cadão Volpato a diferença é que o Fellini ainda causa “estranhamento”. – O Thomas propôs entrar com a MPB, do Tamba Trio e coisas obscuras da bossa nova no nosso trabalho, que tinha a ver com uma coisa meio intuitiva minha. Quando as pessoas não reparam nesse casamento, que é um samba meio desritmado, ainda é estranho. O caminho do Fellini é muito próprio – elabora o vocalista, em tom de que, passados 25 anos, muita coisa ainda pode ser extraída dali. |
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