Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil
JUAZEIRO - Sua ex-gravadora, a Kuarup (que fechou as portas recentemente), foi um dos poucos alvos poupados por Xangai. O cantor e compositor dispara sua Uzi giratória na direção do que chama de “bando de bandidos” da música, adianta que está preparando dois discos para este ano e pretende recuperar seu acervo do selo do empresário Mario de Aratanha. Baseado em Salvador e ainda fiel aos princípios de fazer canções não comerciais – o que despertou a admiração de um público selecionado, interessado nos porões da cultura brasileira – o violeiro segue com suas toadas e cirandas em plena atividade, principalmente no Nordeste, em gravações e shows. O trovador pilota um programa de rádio e outro na TV em Salvador, ambos chamados Brasilerança, e tem uma fazenda em Vitória da Conquista, sua cidade natal, onde cria cavalos e dá eventuais aulas de equitação.
– Eu me apresento apenas com meu violão. Para trabalhar com outra pessoa, só se fosse na dupla sertaneja Eugênio e Avelino – diz o cantor, brincando com seu nome de batismo (Eugênio Avelino), enquanto prepara-se para uma apresentação no sertão baiano. – Um dos discos que vou lançar será com o costarriquenho Mario Ulhoa, considerado um dos cinco melhores concertistas do mundo. O outro é um álbum solo, que estou terminando e que está com título provisório de Naturo.
Sobre o fim da gravadora, pela qual lançou um punhado de álbuns desde 1980, solo ou em parceria com músicos como Elomar e Geraldo Azevedo, Xangai dispara contra a a falta de interesse do poder público pelo segmento, algo que considera da maior importância.
– Quando os bancos sofrem um abalo, o governo injeta dinheiro. A Kuarup, que era a gravadora detentora do melhor catálogo da música brasileira, faliu sem sequer um aceno de ajuda do Ministério da Cultura – lamenta. - Minha intenção agora é levantar condições econômicas para reaver os discos que gravei lá e mandar fabricar mais para vender em minhas apresentações.
O próximo tiro de Xangai é nos cantores. De dicção impecável, ele reprova os que não primam por este aspecto musical, o qual considera fundamental na performance de um artista.
– Quantas gravações ouvimos de gente com uma voz linda, mas que não se entende nada da letra? – pergunta. – Parece que os intérpretes têm preguiça de pronunciar os finais das palavras, aí fica tudo dito pela metade.
Uma gravação em especial lhe pregou um baita susto.
– Foi um cara gritando “Beibêeeeeee, beibêeeeeee” – conta, imitando com altas doses de exagero o que parece ser a versão do Rappa para Vapor barato (Jards Macalé e Waly Salomão). – Não sei quem é esse cara, nem quero saber, mas é mais um que ouviu o passarinho cantar e não sabe mesmo onde.
Quando perguntado sobre a qualidade da nova geração de músicos e compositores, surpreende que eleve a produção recente ao mais alto nível. Mas sua munição continua ativa.
– A música brasileira está em seu melhor momento – atesta. – Claro que não estou falando da música que toca nas rádios. Esta continua cada dia pior. Eu canto do Amazonas ao Rio Grande do Sul, e sempre me aparece um poeta, um cantor ou um compositor que me deixa embasbacado.
Sentimento contrário foi despertado num festival de música no fim de 2008, em Vitória da Conquista, que o pôs no mesmo balaio de artistas como Nando Reis, Biquini Cavadão e alguns grupos de pagode.
– Eu que sou o artista local acabei recebendo menos do que grupos de nome como Calçola Preta, que se trocar um integrante não faz a menor diferença. – dispara. – Imagina se tirassem o George Harrison dos Beatles e colocassem o Eric Clapton. Muda tudo! É isso que chamo de músicos.
Considerado o melhor intérprete de Elomar, seu primo mais erudito e conterrâneo de Vitória da Conquista, Xangai eleva o recluso parente à categoria de hors concours ao avaliar os músicos brasileiros.
– Há mais de 30 anos tento tirá-lo da toca, mas ele tem dificuldade de suportar o público despreparado para ouvir sua obra genial – classifica. – Nós dois temos um público pequeno, mas que é uma elite.
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